Texto vencedor do Prémio ‘António José da Silva’ de 2011 publicado pela Tinta da China

Publicado em segunda-feira, 27 janeiro 2014 11:59

O texto vencedor do Prémio de Dramaturgia Luso-Brasileiro ‘António José da Silva’ de 2011, da autoria de Luís Mário Lopes, vai ser publicado numa versão revista pela editora Tinta da China, com o título ‘Traição’, exprimindo o sentido último de uma peça titulada originalmente ‘Vizinhança’.

Ao escrever a peça, publicada em 2012 no Brasil pela FUNARTE, promotora, a par do Camões, IP, do Prémio António José da Silva, o dramaturgo português, de 47 anos, disse na altura que procurara «fazer uma radiografia da mudança», «falar do que é que se passa quando uma mudança se dá ou está prestes a dar-se e, portanto, como é que essa mudança acontece».

Esta mudança tornada ‘traição’ foi traduzida dramaturgicamente por Luís Mário Lopes na clássica existência literária de duplos, que são uma coisa e o seu contrário em conflito. «O estranho a insinuar-se e a instalar-se. Lentamente. Sem pedir licença. Até te obrigar à maior das traições de que és capaz: a que cometes contra ti mesmo», lê-se na obra agora editada, que fala mesmo de «um estranho» que nos substitui. Porque se é verdade que «todos os dias, ou lentamente, vamos mudando, às vezes, aquilo que somos passados uns anos ou uns dias é quase irreconhecível perante aquilo que fomos», explicou o dramaturgo. É sobre o processo de instalação desse duplo (ou múltiplo, prefere o autor - «mais do que duplos, somos múltiplos», diz) que gira a peça de Luís Mário Lopes.

Decorrendo em Portugal num tempo não indicado, há na peça algo de especificamente português - no que se diz, como se diz e na caracterização das personagens. E não faltou à trama dramatúrgica o ‘ar dos tempos’, inclusivamente quando um dos contenciosos versados pela peça é um nebuloso Projeto de Vigilância Global. Talvez devido à sua formação – Luís Mário Lopes é formado em Física e professor no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL) -, o dramaturgo, na sua ‘radiografia’ da mudança, foca também o impacto dos avanços tecnológicos, que se processam «a um ritmo enorme, aceleradíssimo».

Como dramaturgo e argumentista Luís Mário Lopes foi o autor da peça A Casa dos Anjos (Prémio Autores 2010 na categoria Teatro – Melhor texto português representado; Grande Prémio de Teatro Português da Sociedade Portuguesa de Autores/Teatro Aberto 2009) e de argumentos cinematográficos realizados por, entre outros, João Mário Grilo (Não Esquecerás), Manuel Mozos (Cinzas e Brasas) e Luís Alvarães (Directo, de que é co-realizador).